Tropicalismo

O tropicalismo foi um movimento cultural que surgiu no Brasil, na década de 1960. Também chamado de tropicália, manifestou-se nas artes fazendo críticas sociais e políticas.
Gilberto Gil cantando em festival que marcou o início do tropicalismo.
Gilberto Gil no Festival de Música Popular Brasileira de 1967, momento marcante no surgimento do tropicalismo.[1]
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O tropicalismo foi um movimento cultural brasileiro que surgiu na década de 1960, buscando trazer uma nova manifestação cultural para o cenário das artes no Brasil e estabelecer uma alternativa para a bossa-nova e para a MPB. O tropicalismo também trouxe críticas por meio de alegorias ao contexto social e político que o Brasil vivia.

Considera-se que o tropicalismo se iniciou por meio do lançamento de um álbum chamado Tropicalia ou Panis et Circensis, em 1968. Foi encerrado quando Caetano Veloso e Gilberto Gil exilaram-se para fugir da repressão dos militares, em 1969. Além desses dois, outros representantes do tropicalismo foram Rita Lee, Gal Costa, Chico Buarque, Hélio Oiticica e Gláuber Rocha.

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Resumo sobre tropicalismo

  • O tropicalismo foi um movimento cultural brasileiro que surgiu na década de 1960.

  • Misturava elementos tradicionais da cultura brasileira, como o baião e o caipira, com o rock.

  • Teve como representantes artistas como Caetano Veloso, Rita Lee e Hélio Oiticica.

  • Inaugurou-se por meio de um álbum lançado, em 1968, chamado Tropicalia ou Panis et Circensis.

  • Encerrou-se quando Caetano Veloso e Gilberto Gil exilaram-se do Brasil, em 1969.

O que foi o tropicalismo?

O tropicalismo foi um movimento cultural que surgiu em nosso país em meados da década de 1960, manifestando-se, principalmente, na música, mas também estando em outras áreas da cultura, como o cinema, as artes plásticas, o teatro e a poesia. Foi um movimento de grande influência no cenário cultural brasileiro até o seu término repentino.

O tropicalismo também ficou conhecido como tropicália e se enquadra na definição de movimento de contracultura. Isso porque os tropicalistas tinham uma estética visual considerada radical e com o objetivo causar um choque no espectador.

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Características do tropicalismo

Na música, o tropicalismo misturou elementos do pop e rock, estilos em alta nessa década, com elementos da cultura brasileira, como o baião e o caipira. Em geral, entende-se que o tropicalismo sofreu uma forte influência do concretismo.

O objetivo dessa fusão de elementos diversos — o tradicional e o inovador — era criar uma nova expressão da cultura brasileira para contrapor com a bossa-nova e a MPB, estilos dominantes no cenário musical do Brasil. Os artistas do tropicalismo ficaram marcados por suas roupas coloridas e pelo seu visual alternativo.

Gal Costa, artista do tropicalismo, em apresentação na década de 1960.
A cantora Gal Costa foi uma das vozes do tropicalismo. O visual dos artistas chocava os espectadores.[2]

As performances eram sempre exageradas, e as canções traziam muitas alegorias e letras com frases debochadas. Isso fez com que muitos criticassem o tropicalismo como um movimento alienado, especialmente no contexto que o Brasil vivia. Entretanto, as canções, em suas alegorias e mensagens enigmáticas, eram uma forma de criticar o que o Brasil vivia, mas de maneira não convencional.

Na música fez-se um uso intenso de instrumentos até então populares no exterior, como a guitarra elétrica, adaptando o seu uso aos estilos musicais brasileiros. Procurou-se, por meio de performances e canções, criar uma nova ideia e imagem do Brasil, com novas manifestações culturais e novos ícones. Duas das cidades mais impactadas pelo tropicalismo foram São Paulo e Rio de Janeiro, redutos que concentravam os grandes artistas do período.

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Artistas do tropicalismo

O tropicalismo não tem um modelo específico de artista nem um padrão que deveria ser seguido pelos representantes desse movimento cultural. Cada tropicalista procurou manifestar-se à sua maneira, e alguns dos grandes representantes foram:

  • Gilberto Gil (música);

  • Caetano Veloso (música);

  • Gal Costa (música);

  • Tom Zé (música);

  • Os Mutantes (Rita Lee, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista) (música);

  • Nara Leão (música);

  • Choco Buarque (música);

  • Gláuber Rocha (cinema);

  • José Celso Martinez Corrêa (teatro);

  • Hélio Oiticica (artes plásticas);

  • José Carlos Capinam (poesia).

Como surgiu o tropicalismo?

O tropicalismo foi um movimento cultural que surgiu na década de 1960, e dois momentos são considerados muito importantes nesse surgimento. O primeiro foi um festival musical de calouros transmitido pela TV Record, em 1967.

Na ocasião, estavam presentes Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque. Os três cantaram “Alegria, alegria”, “Domingo no parque” e “Roda viva” respectivamente, e o evento foi um grande sucesso. A edição do festival de calouros de 1968 contou com a participação apenas de cantores tropicalistas.

No ano seguinte, aconteceu outro importante marco na história do tropicalismo. Em 1968, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé lançaram o álbum Tropicalia ou Panis et Circensis.

Esse álbum também teve a participação do maestro Rogério Duprat e dos poetas Torquato Neto e Carpinam, sendo considerado o manifesto musical de inauguração desse movimento cultural. Os próprios integrantes do álbum veem a obra como um manifesto e o nome dela foi inspirado em uma obra do artista plástico Hélio Oiticica — Tropicália.

Contexto histórico do tropicalismo no Brasil e no mundo

Mulheres artistas de mãos dadas em protesto, em 1968, em texto sobre o tropicalismo.
Artistas brasileiros em protesto contra a censura, em 1968.[3]

Como vimos, o tropicalismo surgiu no final da década de 1960, quando o Brasil estava sob o poder dos militares. Esse período ficou marcado pela grande agitação social e política, tanto no Brasil como fora daqui. A Ditadura Militar estava na fase de preparação do aparato de repressão, e milhares de brasileiros já haviam sofrido com a perseguição imposta pelos militares.

Uma das marcas do período da ditadura foi o uso da censura para silenciar, pelo medo, todos aqueles que discordavam do regime que os militares impuseram. Uma parte considerável da censura se voltou contra os artistas e as artes brasileiras. Foi exatamente por causa da censura que as canções tropicalistas tinham muitas analogias. Essas letras “codificadas” eram uma forma de criticar a condição do Brasil sem cair nas mãos da censura.

Além dos problemas causados pela Ditadura Militar, o exterior também era influenciado por uma série de acontecimentos e movimentos culturais importantes. O movimento hippie e os estudantes do Maio de 1968 questionavam o capitalismo, a política, os costumes de uma sociedade tradicional e conservadora, e a guerra.

Woodstock arrastou multidões de jovens e serviu de inspiração para artistas em todo o mundo. A Primavera de Praga demonstrava a intenção da sociedade daquele país de lutar contra o autoritarismo, assim como os jovens daqui lutavam contra o autoritarismo militar. Questionar para construir uma nova sociedade era o que inspirava o tropicalismo.

Saiba mais: Punk rock no Brasil — reflexo do período pós-ditadura na música brasileira

O que marcou o fim do tropicalismo?

O tropicalismo foi um movimento cultural de curta duração, mas que teve enorme impacto no cenário cultural brasileiro. Em dezembro de 1968, foi emitido pela ditadura o Ato Institucional número 5, lei que fez a repressão, violência e censura dos militares aumentar, dando início ao período mais violento da Ditadura Militar no Brasil.

O aumento da repressão se voltou contra os artistas do tropicalismo, e, em 1969, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos. Eles decidiram exilar-se do Brasil para garantir a própria segurança, e a saída deles é entendida como o evento que encerrou o tropicalismo no Brasil.

Créditos das imagens

[1]Acervo Arquivo Nacional/ Wikimedia Commons

[2]Acervo Arquivo Nacional/ Wikimedia Commons

[3]Acervo Arquivo Nacional/ Wikimedia Commons

Fontes

NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2016.

SANTANA, Ana Elisa; MELITO, Leandro; FREITAS, Sueli de. Tropicália 50 anos: A história do movimento que marcou a cultura nacional. Agência Brasil, 21 out. 2017. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2017-10/tropicalia-50-anos-historia-do-movimento-que-marcou-cultura-nacional

SANTANA, Crisley. Movimento Tropicalista ressignificou características brasileiras. Disponível em: https://jornal.usp.br/universidade/movimento-tropicalista-ressignificou-caracteristicas-brasileiras/

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

VARELLA, Paulo. A Tropicália e 12 curiosidades que você precisa conhecer. Arteref, 26 jun. 2020. Disponível em: https://arteref.com/movimentos/a-tropicalia-e-12-curiosidades-que-voce-precisa-conhecer/#:~:text=1%2D%20Maria%20Beth%C3%A2nia%2C%20a%20exclu%C3%ADda&text=A%20irm%C3%A3%20de%20Caetano%20Veloso,uma%20das%20criadoras%20do%20Tropicalismo

Por Daniel Neves Silva