Frente Ampla e a atração dos opostos políticos

Afastado do cenário político com a ditadura, Carlos Lacerda aproximou-se de JK e Jango para criar a Frente Ampla.
João Goulart em visita aos EUA, em 1962. Anos depois ele formaria a Frente Ampla.*
João Goulart em visita aos EUA, em 1962. Anos depois ele formaria a Frente Ampla.*
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Por Tales Pinto

A Frente Ampla foi uma tentativa de se realizar uma articulação política de enfrentamento à ditadura militar e de abertura democrática por parte de Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek (JK) e João Goulart (Jango), em 1966.

Carlos Lacerda foi o idealizador da Frente Ampla após não conseguir fazer seu sucessor para o cargo de governador da Guanabara, em 1965, e também não ver horizonte político favorável em sua pretensão de chegar à presidência da República, com a adoção do Ato Institucional nº 2 (AI-2), publicado no mesmo ano, que impunha eleições indiretas para o cargo.

Lacerda foi um defensor de primeira hora do golpe que instaurou a ditadura civil-militar no Brasil, em 31 de Março de 1964. Mas com o recrudescimento do regime, viu-se afastado dos militares e buscou uma aliança com seus antigos rivais.

Carlos Lacerda era da União Democrática Nacional (UDN) e a principal voz de oposição aos governos de JK e de Jango. Com a extinção dos partidos políticos em 1966 e a formação da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático Nacional (MDB), parte dos correligionários de Lacerda ingressou no MDB. Foi através de nomes presentes nesse partido de oposição consentido pelos militares, principalmente Renato Ascher e Armindo Doutel de Andrade, que Lacerda tentou articular a Frente Ampla.

Entretanto, várias eram as dificuldades para efetivá-la. JK e Jango encontravam-se no exílio, sendo que JK estava em Portugal e Jango, no Uruguai. Mas mesmo assim a Frente Ampla foi lançada em outubro de 1966, através da publicação de um manifesto dirigido ao povo brasileiro no jornal carioca Tribuna da Imprensa.

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As exigências expostas no manifesto versavam sobre eleições livres e diretas, a reforma partidária e institucional, a retomada do desenvolvimento econômico e a adoção de uma política externa soberana. Foi assinado apenas por Carlos Lacerda, mas indicava o processo de negociação entre as três figuras políticas.

Um acordo com JK foi conseguido um mês após a publicação do manifesto e ficou materializado na Declaração de Lisboa, em que os dois ex-desafetos afirmavam terem superado as rivalidades políticas. A negociação e a adesão de Jango iriam ocorrer apenas dez meses depois, em setembro de 1967, quando uma nota conjunta de ambos foi firmada em Montevidéu, indicando ser a Frente Ampla um instrumento para a restauração das liberdades públicas e individuais.

Entretanto, com a chegada de Costa e Silva à presidência e o recrudescimento da repressão aos opositores, além das grandes manifestações em algumas cidades brasileiras, a Frente Ampla foi oficialmente proibida em 05 de abril de 1968.

* Crédito da Imagem: Biblioteca do Congresso dos EUA.

Por Tales Pinto