Reunificação da Alemanha

A reunificação da Alemanha foi o processo de integração política, territorial, social e econômica da República Democrática Alemã e da República Federal Alemã. Ocorreu em 1989.
Mapa mostrando a Alemanha Oriental e a Berlim Oriental, cuja reunificação da Alemanha as integrou ao território alemão.
Mapa mostrando em verde a Alemanha Oriental e a Berlim Oriental, cuja reunificação da Alemanha as integrou ao território alemão.[1]
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A reunificação da Alemanha foi o processo de integração política, territorial, social e econômica da República Democrática Alemã e da República Federal Alemã. Ela foi consolidada no dia 3 de outubro de 1989, preservando a ordem política, social e econômica da República Federal Alemã (Alemanha Ocidental). Ela está relacionada com a crise da União Soviética e com o forte endividamento e sucateamento que a Alemanha Oriental vivenciava no final da década de 1980.

Essa reunificação marcou a consolidação alemã no cenário mundial capitalista. Associada à queda do Muro de Berlim e à desintegração da União Soviética, simboliza o encerramento da ordem bipolarizada, dando início a uma Nova Ordem Mundial de hegemonia do capitalismo que ficou conhecida como unipolar.

Leia também: Unificação Alemã — a unificação territorial, estatal, econômica e militar que levou à formação da Alemanha

Resumo sobre a reunificação da Alemanha

  • A reunificação da Alemanha foi o processo de integração política, territorial, social e econômica da República Democrática Alemã e da República Federal Alemã, que ocorreu em 1989.
  • A Alemanha tinha sido oficialmente dividida, em 1949, em dois países: República Democrática Alemã (Alemanha Oriental), sob influência da União Soviética, e República Federal Alemã (Alemanha Ocidental), sob influência capitalista.
  • Entre 1949 e 1961, aproximadamente 2,6 milhões de cidadãos da Alemanha Oriental haviam se mudado para a Alemanha Ocidental em busca de melhores condições de vida.
  • Para evitar isso, o presidente Nikita Kruschev, sucessor de Josef Stalin, determinou a construção do Muro de Berlim.
  • Diante de vários problemas na Alemanha Oriental, foram feitos movimentos populares em defesa da reunificação territorial e da democracia.
  • A reunificação da Alemanha foi consolidada no dia 3 de outubro de 1989, preservando a ordem política, social e econômica da República Federal Alemã (Alemanha Ocidental). No ano seguinte, foi assinado o Tratado Dois Mais Quatro.
  • A reunificação intensificou as disputas entre a população das duas áreas por emprego, realidade que ainda pode ser percebida atualmente. Ainda hoje os salários e a qualidade de vida são diferentes entre o leste e o oeste alemão.
  • Após a reunificação, a Alemanha adotou o euro, moeda única da União Europeia.
  • A reunificação teve um forte impacto nas estratégias econômicas e geopolíticas da Alemanha.
  • A queda do Muro de Berlim, a reunificação da Alemanha e a desintegração da União Soviética simbolizaram o encerramento da ordem bipolarizada, dando início a uma Nova Ordem Mundial de hegemonia do capitalismo que ficou conhecida como unipolar.

O que foi a reunificação da Alemanha?

Imagem mostrando o território da Alemanha antes e depois da reunificação.
Território da Alemanha antes da reunificação (1949-1990, entre República Democrática Alemã e República Federal Alemã) e após a reunificação (1990).[2]

A reunificação da Alemanha foi o processo de integração política, territorial, social e econômica da República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) e da República Federal Alemã (Alemanha Ocidental), que haviam surgido após a divisão da Alemanha ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, durante a Conferência de Potsdam. Durante a divisão, a República Democrática Alemã ficou sob a influência da URSS, e a República Federal Alemã ficou sob a influência das potências econômicas capitalistas, EUA, França e Reino Unido. A antiga capital Berlim, que também havia sido dividida, também foi reunificada.

O processo de reunificação foi consolidado no dia 3 de outubro de 1989, sob a égide de República Federativa da Alemanha, preservando a ordem política, social e econômica da República Federal Alemã.

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Antecedentes históricos da reunificação da Alemanha

No contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em fevereiro de 1945, os líderes das potências econômicas mundiais vencedoras do conflito se reuniram na URSS para a realização da Conferência de Yalta, a saber: Josef Stalin, da União Soviética; Winston Churchill, da Inglaterra; e Franklin D. Roosevelt, dos Estados Unidos. Durante a conferência ficou definido que parte da Polônia seria entregue para a URSS, que também aumentaria suas áreas de influência no Leste Europeu. Além disso, também foram discutidas a criação da Organização das Nações Unidas e a divisão da Coreia.

Em junho do mesmo ano, os líderes se reuniram novamente, entretanto dessa vez o representante dos Estados Unidos foi o presidente Harry S. Truman. O representante da Inglaterra começou sendo Winston Churchill e depois foi Clement Attle, e o local escolhido para a realização da conferência foi Berlim, na Alemanha. A Conferência de Potsdam, como ficou conhecida, foi realizada para definir os rumos da Alemanha. Nela ficou definida a criação do Tribunal de Nuremberg, a desmilitarização da Alemanha, o pagamento de pesadas indenizações aos aliados, bem como a divisão da Alemanha e de sua capital em áreas que deveriam ser ocupadas pelos países vencedores do conflito: Estados Unidos, França, Reino Unido e União Soviética.

Assim, a Alemanha foi oficialmente dividida, em 1949, em dois países, sendo República Democrática Alemã (RDA), ou Alemanha Oriental, com capital em Berlim Oriental, sob influência da União Soviética; e República Federal Alemã (RFA), ou Alemanha Ocidental, com capital em Bonn, sob influência capitalista. A capital Berlim também foi dividida em Berlim Ocidental, sob influência capitalista, e Berlim Oriental, sob influência socialista.

Nesse sentido, a divisão da Alemanha insere-se no contexto da Guerra Fria (1947-1981), de uma ordem mundial bipolarizada, de acirramento das disputas por áreas de influências capitalistas e socialistas, de desencadeamento das corridas armamentista e espacial, de criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)  pelos Estados Unidos e do Pacto de Varsóvia pela União Soviética.

A influência econômica dos Estados Unidos na Alemanha Ocidental por meio do Plano Marshall possibilitou a sua rápida recuperação e crescimento econômico no pós-Segunda Guerra Mundial, o que foi nomeado por alguns historiadores como o milagre alemão. Nesse sentido, a Berlim Ocidental passou a ser vista como um lugar melhor para morar, atraindo os interesses dos habitantes da Berlim Oriental.

Entre 1949 e 1961, aproximadamente 2,6 milhões de cidadãos da Alemanha Oriental haviam se mudado para a Alemanha Ocidental em busca de melhores condições de vida. Buscando evitar que as pessoas atravessassem de Berlim Oriental para Berlim Ocidental, em 1961, o presidente Nikita Kruschev, sucessor de Josef Stalin, determinou que Berlim fosse separada por um muro. O Muro de Berlim, como ficou conhecido, era feito de concreto e arame farpado, possuía 37 km de extensão, tinha torres de vigia e fios eletrificados. O muro existiu de 1961 até a sua queda, em 9 de novembro de 1989.

A partir da década de 1980, a crise da União Soviética, seguida de seu desmantelamento, refletiu diretamente na Alemanha Oriental, que se encontrava com um alto índice de desemprego, infraestrutura sucateada e forte endividamento nos bancos. Diante da situação, vários movimentos populares foram feitos em defesa da reunificação territorial e da democracia, por meio do apoio de partidos políticos conservadores, sindicatos e empresários. Além da pressão internacional favorecida pelos Estados Unidos, que buscavam consolidar a hegemonia do capitalismo no mundo.

Motivos da reunificação da Alemanha

O enfraquecimento e desmantelamento da União Soviética refletiu diretamente na Alemanha Oriental, com uma infraestrutura sucateada e forte endividamento, o que favoreceu o início de movimentos populares com pedidos de retorno da democracia, defendendo a reunificação territorial.

Como aconteceu a reunificação da Alemanha?

A reunificação da Alemanha foi consolidada no dia 3 de outubro de 1989 através de pressões populares, apoio de sindicatos, partidos políticos conservadores, empresários e intervenção internacional, preservando a ordem política, social e econômica da República Federal Alemã (Alemanha Ocidental).

Em 12 de setembro de 1990, em Moscou, foi assinado o Tratado Dois Mais Quatro, entre os Estados Unidos, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, França, Inglaterra, República Federal da Alemanha e República Democrática da Alemanha. O tratado reconhecia a soberania da Alemanha, sua permanência na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), estabelecia suas fronteiras e redefinia a sua política externa após o seu processo de reunificação.

Qual a importância da reunificação da Alemanha?

Portão de Brandemburgo, durante a queda do Muro de Berlim, no contexto de reunificação da Alemanha
Portão de Brandemburgo, durante a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, na parte ocidental da Alemanha.[3]

Junto à queda do Muro de Berlim e à desintegração da União Soviética, a reunificação da Alemanha simbolizou o encerramento da ordem bipolarizada, dando início a uma Nova Ordem Mundial de hegemonia do capitalismo que ficou conhecida como unipolar. Entretanto, atualmente, alguns historiadores mencionam sobre o surgimento de uma ordem multipolar, destacando o poderio econômico, político, cultural e bélico dos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, considerando os outros espaços de poder, tais como China, Japão e União Europeia, que têm se destacado no cenário mundial. Além disso, a reunificação da Alemanha marcou a consolidação alemã no cenário mundial capitalista.

Veja também: Como foi a queda do Muro de Berlim?

Consequências da reunificação da Alemanha

A Alemanha Oriental perdeu todas as suas características institucionais, tais como moeda e formas de organização política e econômica. Nesse sentido, alguns historiadores apontam o processo de reunificação como uma transferência das instituições da Alemanha Ocidental para a Alemanha Oriental, que contou com o apoio de empresários, sindicatos e de partidos políticos conservadores, tais como o Partido Democrata Cristão.

As fábricas da Alemanha Oriental eram obsoletas, milhares de pessoas estavam desempregadas e o parque industrial precisava de investimentos. A reunificação intensificou as disputas entre a população das duas áreas por emprego, gerando uma competitividade que dava espaço ao discurso de ódio, fortalecendo os grupos neonazistas que promoviam atentados contra a população da antiga Alemanha Oriental. Ainda hoje os salários e a qualidade de vida são diferentes entre o leste e o oeste alemão. O muro físico havia sido derrubado, entretanto ergueu-se um novo muro psicológico de discriminação entre os alemães.

Inicialmente, com a reunificação, a economia alemã teve um crescimento vertiginoso. No primeiro ano após a sua reunificação, a antiga Alemanha Oriental era a responsável por mais de 80% da produção. Entretanto, a partir de 1993, o país passou a enfrentar uma queda no seu PIB. Os gastos com a reunificação aumentaram a taxa de juros, e o índice de desemprego subiu para 10%. Buscando solucionar a crise, o governo alemão diminuiu os benefícios sociais e tentou estimular a produtividade industrial. Além disso, a Alemanha adotou o euro, moeda única da União Europeia. Nesse sentido, a reunificação teve um forte impacto nas estratégias econômicas e geopolíticas da Alemanha.

Também, podemos apontar a reunificação da Alemanha no dia 3 de outubro de 1990 e o colapso da União Soviética em dezembro de 1991 como marcos fundamentais para o fim da Guerra Fria e transição para uma Nova Ordem Mundial. O colapso do socialismo significou o fortalecimento e estabelecimento da hegemonia capitalista no mundo por meio das práticas neoliberais.

Exercícios resolvidos sobre a reunificação da Alemanha

Questão 1.

(PUC) Leia a notícia abaixo e assinale a alternativa que elenca CORRETAMENTE os motivos que levaram à separação da Alemanha em dois países diferentes (Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental) durante o século XX.

Helmut Kohl, que morreu na manhã desta sexta-feira aos 87 anos em sua casa de Ludwigshafen, [...] foi o chanceler da unificação alemã. [Sem ele], esse acontecimento fundamental para a história da Europa não se teria produzido no curto espaço de onze meses entre 9 de novembro de 1989, dia da queda do Muro de Berlim, e 3 de outubro de 1990, quando os seis landers da antiga República Democrática da Alemanha foram incorporados à República Federal e diretamente integrados à então chamada Comunidade Europeia.

Fonte: Bassets, Luís. Morre Helmut Kohl, o europeísta em estado puro que unificou a Alemanha. El País – edição Brasil. 16 de junho de 2017. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/16/internacional/1497626619_312475.html. Acesso em 12 de junho de 2017. 

A) A separação da Alemanha em dois países (República Democrática e República Federal) consolidou a divisão política do povo alemão durante o domínio nazista: no lado oriental, concentraram-se os partidários do Partido Nacional-Socialista após 1945, enquanto o lado ocidental reunia a democracia cristã e os partidos liberais.   

B) A separação política do território alemão foi um desdobramento da Segunda Guerra Mundial, que criou duas zonas de influência no território europeu: uma, de domínio soviético, englobava a República Democrática da Alemanha, e outra, liderada por Reino Unido, França e Estados Unidos, da qual fazia parte a República Federal.    

C) A cisão política do território alemão é uma consequência do impasse militar gerado pela invasão de Berlim pelas tropas soviéticas ao leste e pelo exército norte-americano a oeste daquela cidade; como nenhum dos lados conseguiu a hegemonia do território, a solução política foi a separação entre duas Alemanhas.    

D) A vitória dos Aliados na Segunda Grande Guerra levou à concentração do que restou do exército nazista na porção oriental do território alemão, reconhecido como país independente na Conferência de Potsdam em 1948.    

E) A separação das duas Alemanhas reflete a polarização existente na sociedade germânica sobre a integração ou isolacionismo frente à União Europeia pós-Segunda Grande Guerra, colocando do lado oriental os partidários da adesão ao bloco europeu e no bloco ocidental os defensores da soberania do estado alemão.   

Resolução:

Alternativa B.

A Alemanha foi dividida durante a realização da Conferência de Potsdam, em 1945. Sendo que a República Democrática Alemã ficou sob a influência da URSS e a República Federal Alemã ficou sob a influência das potências econômicas capitalistas, EUA, França e Reino Unido. A capital Berlim também foi dividida. A divisão da Alemanha é consequência do contexto do término da Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria, em um período de disputas entre as potências econômicas mundiais por áreas de influência.

Questão 2.

(UFSM) 

Queda do muro de Berlim.

Fonte: Disponível em: www.infoescola.com/sem-categoria/queda-do-muro-de-berlim. Acesso em:  16 ago. 2013.

Em 9 de novembro é derrubado o Muro de Berlim. O governo [da Alemanha Oriental] não tinha condições de mantê-lo, a menos que partisse para uma repressão sangrenta. [...] Em apenas três dias, pelo menos 2 milhões de alemães-orientais passaram para Berlim Ocidental. [...] Já no lado ocidental, os alemães-orientais formavam filas enormes diante das discotecas e de lojas pornôs [...]. Embora não tivessem dinheiro suficiente para comprar, as pessoas olhavam tudo como se fosse um grande parque de diversões.

ARBEX JR., José. Revolução em 3 tempos: URSS, Alemanha, China. SP: Moderna, 1993. p. 54-56.

A partir do texto, pode-se afirmar que a queda do Muro de Berlim, em 1989, indica 

A) a falência do modelo socialista soviético em atender às demandas da população quanto à liberdade individual e ao consumo de bens e serviços.    

B) as grandes realizações do modelo socialista na saúde e educação, capazes de manter as massas distantes dos apelos do mundo do consumo de bens privados, próprios da economia capitalista.    

C) o resultado do cerco militar das potências capitalistas e, consequentemente, o esgotamento do sistema socialista de atender às demandas das populações dos países do Leste Europeu.    

D) o vigor do modelo socialista adotado pela Alemanha Oriental, o qual repetia o padrão soviético, porém era mais brando quanto à livre organização da sociedade e à liberdade de imprensa.    

E) a crise do capitalismo dos países da Europa Ocidental e dos Estados Unidos, com o esgotamento do Estado do Bem-Estar Social e a retração da sociedade de consumo.   

Resolução:

Alternativa A.

A queda do Muro de Berlim está diretamente relacionada à crise e desmantelamento da URSS e ao fortalecimento do capitalismo no cenário mundial.

Créditos de imagem

[1] Wiki-vr / Wikimedia Commons (reprodução)

[2] historicair / Dr. Meierhofer / Immanuel Giel / Wikimedia Commons (Imagem editada: Texto “Berlin” foi traduzido para “Berlim”.) 

[3] Senate of Berlin / Lear 21 / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

ARRUDA, José Jobson de A. PILETTI, Nelson. Toda a História. 4 ed. São Paulo: Ática, 1996.

BOULOS JUNIOR, Alfredo. História: sociedade e cidadania, 9° ano. São Paulo: FTD, 2009.

DAEHNHARDT, Patrícia. O fim da Guerra Fria e a unificação alemã. Relações Internacionais, v. 23, p. 23-51, 2009.

GUSMÃO, Tallyta Rosane Bezerra de. Aspectos econômicos da unificação da Alemanha (1990-2000). Tese (Doutorado) — Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

MENDES, Ricardo Camargo; PEDROTI, Paula Maciel. Alemanha: a internacionalização recente e o papel das instituições na entrada do século XXI. CARDOSO JR., José Celso; ACIOLY, Luciana; MATIJASCIC, Milko (orgs.) Trajetórias Recentes de Desenvolvimento: estudos de experiências internacionais selecionadas. Brasília: Ipea, 2009.

Por Vanessa Clemente Cardoso